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JARDIM DO INSTITUTO MOREIRA SALLES – IMS RIO

Rio de Janeiro, RJ

Texto Isabel Duprat

 

Conheci o embaixador Walther Moreira Salles doze anos antes do trabalho que desenvolvi no IMS Rio, quando fiz o jardim de sua residência em São Paulo. Depois deste, os jardins da casa de campo em Araras, na região serrana carioca desenvolvido ao longo de muitos anos, onde desfrutei momentos de agradável convívio com o embaixador e sua mulher, Lucia. O casal tinha enorme gosto por jardins, assim que durante as caminhadas no parque, no delicioso clima de verão na serra, fui sendo apresentada a muitos jardins mundo afora, como os jardins verde e branco de Sissinghurst, dos quais nunca havia ouvido falar, um dos preferidos do embaixador, e tive a oportunidade e privilégio de viver um dia inesquecível nos jardins de Giverny, praticamente sozinha, numa segunda-feira, dia fechado ao público, em plena primavera.  Dos almoços onde compartilhávamos o gosto por um bom vinho, leitão e goiabada mineira, às conversas ao pé da lareira, no aconchegante chalé, que eu enfeitava com hortênsias cor de rosa em janeiro, guardo lembranças do que desfrutava com fascinação, respeito e admiração, tão cheias de saber para a vida inteira.

Quando, em 1995, fui chamada a reformar os jardins da casa da Gávea, o IMS Rio estava em seus primórdios, ainda em gestação. A casa, antiga residência de Walther Moreira Salles localizada no bairro da Gávea, é um notável exemplar da Arquitetura Moderna Carioca, projeto de Olavo Redig de Campos, teve o projeto de restauro e adaptação a cargo dos arquitetos Maria Luíza Dutra e Walter Menezes.

O terreno de 7.800 m² cortado pelo rio Rainha concentrava um grande número de importantes exemplares de árvores e palmeiras de diversas espécies, testemunho de nossa flora tropical,e algumas exóticas e gigantes jaqueiras. Essa significativa área verde continha um potencial de cunho educativo, na medida em que, além do conjunto expressivo de espécies vegetais que continha, oferecia diversas possibilidades de intervenção e apropriação da natureza. Foi dada a mim total liberdade de encaminhar os trabalhos e decidir o que fazer. Nesta ocasião entendi que o primeiro passo era proceder a uma grande limpeza que permitisse um bom diagnóstico, dado os anos em que a casa ficou fechada e os jardins sem manutenção, para desta forma orientar o meu trabalho. Do jardim projetado por Burle Marx em 1951, restavam partes isoladas do plantio do projeto original. 

 

Tomei como diretriz a ideia do restauro, considerando que ainda havia as condições físicas de recuperação. Muitas vezes o fator limitante da restauração de um jardim acontece quando as condições físicas e ambientais foram muito alteradas no decorrer dos anos. Aqui, por outro lado, as grandes árvores que já existiam quando da execução do projeto original ainda restavam, portanto as áreas de sombra continuavam as mesmas. O espelho d’água e seu belo painel de azulejos e a piscina também lá estavam, em áreas de boa insolação, como inicialmente, e havia uma cópia do projeto original de Burle Marx com boa parte da lista de plantas. 

 

Além das áreas restauradas, projetei e executei as novas áreas a serem incorporadas ao jardim do Instituto que não haviam sido objeto do projeto original, além das áreas geradas pela adaptação da residência, tendo os dois conjuntos, o da restauração do projeto de Burle Marx e o projeto de paisagismo que fiz das novas áreas, aproximadamente a mesma área de 2.000 m², totalizando 4000 m².

Fui movida pelo desejo de recuperar um projeto de Burle Marx dos primeiros vinte anos de sua trajetória profissional. Neste trabalho a integração com a arquitetura e a harmonia com o entorno, e o uso da vegetação autóctone como repertório de espécies, já traduzem  elementos estruturais de sua atitude de projeto, Aqui Burle Marx nos mostra, de um lado, a ousadia do painel de azulejos, perto do espelho d’água, que por si só já é uma obra de arte, o uso de plantas esculturais no pátio do chafariz, a ironia ao projeto clássico com o parterre do jardim geométrico e, por outro, nos apresenta um desenho tímido, quase ingênuo no jardim frontal, onde continua desenvolvendo o seu jardim pictórico usando a vegetação como paleta de cores e texturas, propondo assim uma renovação do vocabulário figurativo no tratamento dos espaços verdes. Esta foi uma postura completamente diferente da que tive em relação aos jardins da casa Roberto Marinho, quando optei por não restaurá-lo, por ter sido completamente alterado ao longo do tempo, pela enorme intervenção que sofreria com o desvio do rio Carioca e pela falta de documentação do projeto original.

 

O projeto teve início em 1997 após quase dois anos de trabalho realizando na totalidade das áreas mapeamento da vegetação existente, diagnóstico, estudo de viabilidade da restauração, recuperação do terreno das áreas erodidas, limpeza, recuperação do bambuzal junto à margem do rio, tratamento fitossanitário das árvores e palmeiras, remoção das plantas para formação e estoque de mudas para replantio em outras áreas do terreno, preparo do solo para receber o plantio e adubação de toda a vegetação existente que não seria removida.

 

Para as áreas a serem restauradas, a planta original foi digitalizada e todos os canteiros dimensionados e cotados de forma a viabilizar a implantação do jardim. Para todas as outras áreas fiz um projeto promovendo a integração de todas as áreas de jardim do Instituto de forma a proporcionar até os dias de hoje a sensação de que o conjunto é harmônico.

 

A proposta deste trabalho não foi realizar um restauro ortodoxo, mas sim resgatar a ideia de um trabalho inicial da carreira de Roberto Burle Marx, apreender o seu percurso e prestar minha homenagem a ele.

Área de de restauro 1870 

Área de intervenção das novas áreas 2130  

Projeto e execução 1995 - 1999

Fragmento do relatório realizado na época

do projeto com o diagnóstico e proposições

Desenhos e registros do processo

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