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JARDINS DA CLÍNICA AXIS

São Paulo, SP

Texto Isabel Duprat

 

Vivenciar lugares, paisagens, cidades, jardins históricos ou contemporâneos com olhar atento e a emoção acesa nos dá um repertório de imagens e sensações e, tudo junto e misturado, nos move no momento da criação e do desenho, quando pinçamos preciosidades do enorme acervo armazenado em nossa mente, e que muitas vezes nem sabemos que estão lá. Foi o que aconteceu neste jardim para a clínica de quiropraxia e fisioterapia de um amigo, grande apreciador de jardins, um cúmplice bastante ativo durante todo o processo.

 

A casa, que recebeu projeto de reforma e adaptação de Carlos Sawaya Bracher, pertenceu a um casal de japoneses. Elementos da arquitetura japonesa estavam no telhado, nas aberturas, nas passagens e nas esquadrias. 

 

O jardim ocuparia a área formada pela construção em L a ser fechada pelo espaço de meditação e ioga a ser construído. Ocupando o miolo de toda a futura clínica, este jardim faria a ligação entre a recepção, as salas, o anexo de meditação e a administração. Deveria amenizar muros e divisas ao mesmo tempo que, como um pulmão, exalar conforto e calma na passagem e no estar. Uma área de 250 com muitas funções práticas a atender e que não seria nada além de uma passagem se este espaço vazio entre muros e paredes não se transformasse em um lugar de bem-estar, onde gentilmente atendesse aos seus propósitos funcionais.

 

Como fazer um jardim que conversasse com a casa e não um clichê de jardim japonês, mas sim que trouxesse referências e sobretudo provocasse genuínas sensações? Foi isso que me propus a fazer.

 

A escala perfeita, sim, podemos dizer perfeita, dos belíssimos históricos jardins japoneses é um dos aspectos mágicos que mais me fascinam, além do uso da água e dos sons que ela pode produzir e das pedras magicamente colocadas. Eu me dediquei a entender o espaço da clínica sob este ponto de vista.

 

Desenhei um espelho d’água abraçando a sala de ioga, dando a ela um resguardo das outras atividades, e que com seu movimento e som contribuísse para as práticas da meditação. Nas minhas caminhadas no sul da Bahia, ficava encantada em ver como a argila que escorria das falésias na praia esculpiam pequenos lagos com fundos sinuosos em delicados relevos que recebiam a cor do mar em diferentes verdes quando a maré os enchia de água. Fiz assim o espelho d’água, esculpindo o seu fundo de forma a criar diferentes tons. A cor cinza traz as cores da casa para a água ao mesmo tempo que reflete o céu.

Nos pontos mais baixos do relevo, em diferentes níveis, pequenas fontes desenham movimentos circulares, dando uma dimensão maior ao espelho. Tanto o som suave da água escorrendo sobre a pedra em um canto do lago quanto o som da água caindo na canaleta recoberta por seixos são muito agradáveis ao ouvido. Como é difícil acertar o som da água. Ouvir uma água caindo nem sempre é apaziguador. Pode dar a angustiante sensação de torneira aberta. Assim que este é um tema a ser observado com atenção. Em uma visita ao MET em Nova York observei, alertada por uma amiga, que a fonte de Nogushi, na qual a água escorria sobre a pedra, não deveria produzir nenhum som. Mas o som era delicioso e, por isto mesmo, intrigante.  O som acontecia devido à distância entre o ponto de queda da água e o chão, um vazio oculto embaixo dos seixos. A canaleta do espelho d’água reproduz esta ideia.

 

As árvores foram selecionadas por seu porte menor e pela leveza, como a amarela Cassia fistula e o Schinus molle, de forma a darem uma maior dimensão e profundidade ao lugar. Árvores grandes em um espaço pequeno vão deixá-lo menor ainda. As árvores maiores e verticais fazem o fechamento da divisa antes mais invasiva. Philodendrons, íris, samambaias e sobrálias espalham suas texturas e cores acompanhando o passeio pelo jardim. Trepadeiras coloridas cobrem paredes se misturando umas às outras.

 

Pá_transp_inclinada.png
Lapiseira transp inclinado2.png

Área de intervenção 650 m²

Projeto e execução 2013 - 2015

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