Texto Isabel Duprat

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Esta casa ficava no trajeto da minha infância. Eu vinha a pé sozinha de casa do começo da rua Groenlândia até o Clube Paulistano. Era um deslumbramento no inverno ver as azáleas colorindo os jardins como verdadeiras paredes de flores cor fúcsia e salmão. Ficava sempre imaginando o que tinha atrás destes muros e cercas não tão altos e ostensivos como agora e, por isto, podíamos vislumbrar e trabalhar a nossa imaginação.

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Esta é uma casa do final dos anos 30 atribuída a R. M. Harding. Tinha um acento espanhol num misto eclético das casas do bairro.

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O cliente queria um jardim com muitas flores, leve e alegre. Havia insolação boa para recebê-las e áreas de sombra proporcionadas por grandes árvores que já habitavam o terreno.

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Fiz um jardim que de alguma forma homenageasse os jardins daquela época e os bons lugares que criavam, que resgatasse os espaços do antigo Jardim América concebido segundo uma cidade jardim inglesa. Uma época em que folhas secas eram ainda aceitas no jardim como efeito do ciclo natural das estações.

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Fui logo buscar inspiração em Gertrude Jekyll, que exercia a magia do uso das flores e suas cores sem temor e que com muito talento introduziu a ideia do jardim pictórico no começo do século XIX. Fazendo uso de uma rica paleta de cores que as transformava em manchas de cor justapostas, trabalhava seus jardins como obras de arte, trazendo alegria e vivacidade ao associar matizes cromáticos das flores à sisudez dos parques ingleses. 

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Encontrei nas flores perenes adaptadas ao clima desta cidade o repertório para o grande canteiro que envolve o gramado. Junto à grade de ferro que circunda o terreno, grupos de arbustos também floríferos compõem uma segunda camada que, encontrando algumas árvores do jardim, se juntam com as árvores da rua, garantindo um fechamento espesso, vigoroso e  fluido ao mesmo tempo, como pretendia ser este jardim.