Projetando
Como é curiosa a deliciosa permissividade e tolerância com que vivenciamos a paisagem natural, e como somos e devemos ser exigentes com a paisagem projetada.
Estamos fazendo uma caminhada montanha acima usufruindo uma paisagem natural. Está quente, sentimos calor, avistamos uma árvore, que bom! Nos dirigimos até ela. É tudo o que queríamos. Para chegar até lá algumas pedras em desnível nos obrigam a prestar atenção, um córrego para atravessarmos com passos bem largos. Chegamos, e nos acomodamos em uma pedra irregular fazendo as vezes de um banco. Que sensação agradável! Nos sentamos meio desajeitados, mas está tudo certo e o lugar nos faz bem.
Em uma situação diferente, estamos na cidade, caminhando numa praça. Queremos uma sombra e procuramos um banco. Se o banco for desconfortável, não vamos sentir o mesmo prazer que nos deu a pedra irregular. O banco tem que ser bom na altura certa, na dimensão ideal, e se tiver encosto a inclinação tem que receber bem a nossa coluna. Subir uma escada mal projetada com espelhos e pisadas em alturas diferentes e passadas na medida do desconforto, ou andar num piso desnivelado, é uma experiência ruim e perigosa. Mas se temos o controle do desenho, está na nossa mão solucionar este espaço, com rigor no detalhe. Mas o grande desafio do projeto, além de acertar nas dimensões, que não é mais que nossa obrigação, é nos fazer sentir aquela agradável e indecifrável sensação de prazer e bem estar que experimentamos quando nos sentamos em uma pedra desajeitada à sombra de uma árvore em uma caminhada na montanha.
texto Isabel Duprat
Junho de 2018
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